Nascido e criado nas serras das Minas Gerais, o fotógrafo Sebastião Salgado teve como companheiro o perfume do café brasileiro, suas cores, saberes e fazeres, desde seu nascimento em uma pequena cidade do Vale do Rio Doce. Salgado cresceu cercado de matas, liberdade, luz natural e café.
Cidadão do mundo, seu olhar por trás da câmera se perde na beleza da natureza, nas faces do ser humano presente em todo canto por onde caminha e no trabalho do homem simples, sofrido e cheio de esperança.
O perfume dos grãos, das floradas e o dia a dia no entorno do café fez parte de sua infância e do início de sua carreira. Como economista da Organização Internacional de Café, viajou e viu de perto as lavouras cafeeiras, o manejo do café, seu aroma.
Trabalhando nesse mundo tão seu, foi conhecendo o jeito de viver dos cafeicultores, sua rotina, dificuldades, sonhos e esperanças por onde passou.
Em 2002, a empresa italiana Illy café propôs um trabalho de captação de imagens da cafeicultura em um roteiro que revelasse o terroir do café pelo mundo afora.
“Com o convite da empresa italiana Illy para fazer uma história do café, fiquei felicíssimo. E fui embora, viajei durante dez anos, por dez países diferentes. Foi fenomenal. Primeiro, por estar dentro do mundo do café, que é lindo, maravilhoso. Não fiz todos os cafés, fiz o bom café, o Arábica, que é produzido em terras altas“
Perfume de sonho resume dez anos de viagem pelos continentes americano, africano e asiático e a passagem pelos países nos quais o café arábica verdeja em terras altas e à sua volta a vida acontece.
Perfume de Sonho: vida e esperança em preto e branco
O trabalho fotográfico revela, em setenta e cinco imagens, o manejo da lavoura cafeeira, a gente simples que vive da produção do café, que tem a pele marcada pela lida do campo e que alimenta a vida com o fruto da colheita.
“O café é o ganha-pão de aproximadamente 25 milhões de pessoas em 42 países. E foi, para estas pessoas, donos de pequenas propriedades e trabalhadores de grandes plantações, que dediquei minha atenção fotografando-os na América Latina, na África e na Ásia. Para estes trabalhadores, café e vida são coisas inseparáveis. E tem sido assim há séculos, ao longo de gerações. O café define as estações do ano, o ritmo do trabalho, sua renda, seu bem-estar.”
Assim, podemos ver, em preto e branco, Brasil, Guatemala, Índia, China, Tanzânia e outros cinco países, revelados pelo cultivo do café arábica.
São imagens de homens, mulheres, jovens e idosos que carregam a força da cafeicultura marcada em suas mãos e a vida do campo com todos os seus nuances de claro e escuro revelados na intensidade de seus rostos.
Sebastião observa vagarosamente a vida que habita o universo do café resgatando, por meio da visibilidade de sua arte, a dignidade do lavrador em tons do mais puro branco ao mais intenso negro.
Sua obra homenageia os personagens anônimos que fazem com que cada xícara de café gourmet exale o perfume de um sonho.
“Mostro a jornada que envolve pessoas, paisagens e o harmonioso relacionamento com a terra, ilustrado através de expressivas e emocionantes imagens em preto e branco”.
O livro de fotografias do mundo do café capturadas em três continentes nos dá a imagem da cafeicultura como suporte de vidas e economia desde a implantação da lavoura cafeeira na Arábia nos fins do século XVI.
Após olharmos as imagens, podemos dizer que, cada xícara de café gourmet 100% arábica servida nas cafeterias e nas casas dos apreciadores de café por todo o mundo, traz em si o suor, a lida e o perfume de sonho de homens e mulheres que vivem do cultivo do café.
O ClubeCafé espera que o Perfume de Sonho, de Sebastião Salgado, seja mais uma oportunidade de você, apreciador de café, conhecer o universo do café gourmet, do plantio à colheita, em imagens que traduzem além da lida cafeeira, a esperança de crescimento de todos que tem o café como sustento.
"Meu mundo é preto e branco, eu vejo em preto e branco, eu transformo todas essas gamas maravilhosas de cores – e eu acho a cor muito bonita – em gamas maravilhosas de cinza, o preto e branco é uma abstração, é uma forma que eu tenho de sair de um mundo e entrar em outro para poder trabalhar o meu sujeito fotográfico, poder dedicar tempo à dignidade das pessoas. Isso eu consigo em preto e branco, acho que em cores eu não conseguiria.”